Brasília foi palco, neste domingo (4), do lançamento da campanha Cartão Vermelho para o Racismo, uma ação inédita promovida pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF). O pontapé inicial aconteceu no Estádio Nacional Mané Garrincha – Arena BRB, momentos antes da partida entre Vasco e Palmeiras, válida pela 7ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Sob o lema “Não é só falta grave, é cartão vermelho para o racismo”, a campanha foi apresentada ao público com uma simbólica manifestação coletiva: atletas dos dois times entraram em campo segurando uma faixa com a frase da campanha, enquanto torcedores, jogadores e autoridades presentes no estádio levantaram simultaneamente cartões vermelhos em sinal de repúdio à discriminação racial. Os cartões foram distribuídos na entrada da arena, promovendo um gesto visual impactante que envolveu todos os setores do estádio.
De acordo com a Sejus-DF, a ação simboliza o início de uma mudança concreta no futebol brasileiro. “Essa campanha representa um marco. É o primeiro passo para consolidarmos uma política nacional de combate ao racismo nos estádios, baseada na nova legislação e no compromisso coletivo de enfrentamento à discriminação”, declarou a secretária de Justiça e Cidadania do DF, Marcela Passamani.
A iniciativa tem como base a recém-sancionada Lei Vinícius Júnior, batizada em homenagem ao jogador brasileiro que se tornou símbolo internacional da luta contra o racismo no esporte. A lei estabelece medidas preventivas e punições específicas para atos racistas em eventos esportivos, além de instituir diretrizes para campanhas educativas e protocolos de denúncia. Coube à Sejus-DF a responsabilidade pela regulamentação da lei no âmbito local, em articulação com a CBF, que se comprometeu a incentivar a adoção do modelo em todo o país.
CBF reforça compromisso com a pauta racial no futebol
A CBF tem buscado nos últimos anos intensificar sua atuação no combate à discriminação racial nos estádios. Em nota, a entidade afirmou que a campanha Cartão Vermelho para o Racismo representa uma virada de chave. “Não se trata de uma ação pontual, mas de um projeto estruturado e duradouro. O futebol brasileiro precisa refletir o compromisso com a igualdade e o respeito à diversidade”, declarou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
Ainda segundo a CBF, a campanha será replicada em outras cidades brasileiras ao longo da temporada, com ações educativas e parcerias com clubes, federações estaduais e instituições de ensino. A entidade também estuda a implementação de um protocolo padronizado de combate ao racismo, com apoio técnico da Sejus-DF e de entidades de direitos humanos.
Educação e conscientização nos estádios
Além do gesto simbólico no Mané Garrincha, a campanha prevê uma série de atividades educativas dentro e fora dos estádios. Entre as ações previstas estão palestras, distribuição de material informativo, capacitação de profissionais de segurança e arbitragem, e campanhas digitais com depoimentos de atletas e personalidades que já sofreram episódios de racismo.
“Não basta punir. É preciso educar, sensibilizar e formar uma nova cultura nos estádios. A mudança começa pela conscientização de cada torcedor”, afirmou a secretária Marcela Passamani.
A inspiração de Vinícius Júnior
A Lei Vinícius Júnior foi sancionada após sucessivos episódios de racismo sofridos pelo atleta em competições internacionais, especialmente na Espanha. A repercussão mundial dos casos motivou o debate no Brasil sobre a necessidade de ações mais concretas e legislativas contra o racismo no esporte. A nova legislação determina, entre outros pontos, a obrigação de planos de prevenção contra o racismo por parte dos clubes, a possibilidade de suspensão de partidas e até a perda de mando de campo em caso de reincidência.
O jogador, atualmente no Real Madrid, não participou presencialmente do lançamento da campanha, mas manifestou apoio em suas redes sociais. “Que esse seja só o começo. O futebol precisa ser um lugar seguro para todos”, escreveu o atleta.
Modelo do DF poderá servir de base para o país
Com a regulamentação da lei no Distrito Federal e a experiência da campanha em Brasília, a proposta da CBF é que o modelo seja replicado em nível nacional. A ideia é que os estados possam adaptar as diretrizes à sua realidade local, sempre respeitando os princípios da nova legislação federal.
Para isso, a Sejus-DF e a CBF deverão criar um grupo de trabalho interinstitucional, com participação de representantes do Ministério do Esporte, organizações da sociedade civil e entidades de combate à discriminação racial.
Mobilização e legado
A estreia da campanha em um jogo de grande apelo nacional foi estratégica. Segundo os organizadores, o objetivo era garantir ampla visibilidade à causa e mobilizar a opinião pública em torno da necessidade de enfrentar o racismo com firmeza. A ação foi acompanhada de um forte esquema de comunicação nas redes sociais, com vídeos, postagens e depoimentos compartilhados por jogadores e influenciadores.
“Queremos transformar o cartão vermelho em um símbolo de resistência e coragem. Quando um torcedor levanta esse cartão, ele está dizendo que não aceita o racismo em lugar nenhum – muito menos no futebol”, concluiu Marcela Passamani.
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