Os clubes participantes da Série D do Campeonato Brasileiro foram surpreendidos na manhã deste sábado (19) com um comunicado oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informando que estão proibidos de realizar a transmissão das partidas por meio de seus próprios canais. A competição, que também tem início neste mesmo dia, estava sendo preparada por diversas equipes com estrutura pronta para exibir seus jogos diretamente ao público por plataformas digitais, como YouTube e redes sociais.
Segundo o ofício da CBF, a entidade pode “disponibilizar a transmissão de determinadas partidas da Série D, através de emissoras estatais (públicas), com atuação regional e ou/nacional, sendo necessário que a referida emissora manifeste o interesse através de ofício a ser encaminhado gabinete da presidência”. Ou seja, apenas veículos públicos terão permissão para transmitir os confrontos, desde que formalizem o pedido diretamente ao gabinete da presidência da CBF.
A decisão frustrou a expectativa de clubes que, sem contrato com grandes emissoras e diante da baixa cobertura midiática da quarta divisão nacional, viam nas próprias transmissões uma maneira de conectar torcedores e gerar engajamento.
Clubes alegam prejuízo esportivo e financeiro
A medida causou indignação entre dirigentes de clubes que se prepararam tecnicamente e financeiramente para garantir a exibição dos jogos a seus torcedores. Sem alternativas imediatas, as agremiações afirmam que a CBF não apenas limita o alcance das partidas, como também prejudica potenciais receitas com monetização, patrocínios e exposição das marcas.
“Isso compromete diretamente nossa comunicação com a torcida. Fizemos investimentos em equipamentos e pessoal para garantir a melhor experiência possível ao nosso público, e agora somos barrados”, comentou um dirigente que preferiu não se identificar.
Além do impacto na relação com os torcedores, a impossibilidade de transmissão também afeta a visibilidade de atletas e profissionais da comissão técnica que dependem dessas exibições para obter destaque e oportunidades em outras divisões ou mercados.
Ausência de diálogo é criticada
Outro ponto questionado pelas equipes foi a falta de diálogo prévio com a CBF. Diversos clubes alegam que não foram consultados ou sequer informados com antecedência sobre a nova diretriz. O comunicado foi recebido horas antes da rodada inaugural da Série D, o que impediu qualquer reação planejada por parte dos departamentos de comunicação e marketing dos clubes.
“Não é razoável sermos comunicados de uma decisão dessa magnitude horas antes da estreia. Isso demonstra o quanto a competição é tratada de forma secundária”, afirmou um presidente de clube do interior nordestino.
Modelo anterior dava autonomia às equipes
Nos últimos anos, a Série D permitia que os clubes transmitissem seus próprios jogos, o que foi visto como uma alternativa viável diante da ausência de contratos com grandes redes de televisão. Esse modelo, inclusive, incentivou a criação de canais oficiais com produção audiovisual local, promovendo também a cultura regional do futebol brasileiro.
A mudança para um sistema centralizado, com controle absoluto da CBF sobre os direitos de imagem mesmo em casos onde não há previsão de cobertura por emissoras tradicionais, reacende o debate sobre a descentralização do futebol nacional e o papel das federações na promoção das divisões inferiores.
CBF ainda não explicou critério para escolha de jogos transmitidos
Até o momento, a CBF não divulgou detalhes sobre quais partidas serão contempladas com transmissões via emissoras públicas. Também não foram informados os critérios para a seleção dos jogos ou como os clubes interessados podem acompanhar o processo. A ausência de informações claras alimenta ainda mais a insatisfação dos envolvidos na competição.
Torcedores reagem nas redes sociais
Com a repercussão negativa da decisão, torcedores de diversos clubes usaram as redes sociais para criticar a postura da entidade. Muitos lamentaram o fato de não poderem acompanhar os jogos de seus times, especialmente aqueles que disputam a competição em regiões com pouca cobertura da imprensa esportiva.
Resumo do impasse
A medida tomada pela CBF joga luz sobre uma antiga reivindicação dos clubes da base da pirâmide do futebol nacional: maior autonomia e visibilidade. Com calendários mais curtos, recursos limitados e pouca atenção da grande mídia, a Série D representa o único espaço competitivo nacional para dezenas de clubes tradicionais e emergentes.
Neste cenário, as transmissões independentes vinham cumprindo um papel importante na construção de marca, fortalecimento de torcida e arrecadação de fundos. A restrição imposta pela CBF, sem um plano de substituição claro ou compensação, reacende o debate sobre a democratização do acesso ao futebol brasileiro.
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